terça-feira, 7 de abril de 2009

Sobre a internação.

Dizem que é com as experiências dolorosas que a gente cresce de verdade; então, resolvi escrever sobre coisas que aprendi na minha estadia pela Clíncia.
Acho que descobri que, em alguns casos, não importa o tamanho das paredes que te rodeiam, o sentimento de vulnerabilidade é inevitável. Aprendi, também, que, não são apenas as drogas que as pessoas usam que são capazes de as levar à loucura. Alguns sentimentos têm a mesma eficiência e são tão letais quanto.
Aprendi que as pessoas mais encantadoras e, em alguns casos, mais inteligentes, que eu conheci, simplesmente são incompreendidas. Em outros casos, é só loucura, mesmo. Não dá pra definir.
Outra coisa que me chamou bastante a atenção é o fato de que não importa o quanto você fuja, se esconda ou finja que não foi com você; seus traumas do passado sempre voltam pra te assombrar. Se não sempre, ao menos uma vez. O mesmo acontece com o julgamento do seu caráter. Alguém vai acabar achando que tem o direito de fazer isso, mesmo que você discorde.
Entendi, também, que, mesmo os objetos mais simples têm uso controlado. O fio-dental ficava na enfermaria, e alguem sempre nos dava pedaços.
Algumas pessoas têm essa capacidade de se solidarizar com as tristezas alheias, e isso ficou claro, pra mim, num dia de particular sentimento de solidão, quando eu chorava compulsivamente e a pessoa de quem eu menos esperava ajuda, me ofereceu dignamente um lenço e um pedaço de chocolate.
Por falar nisso, chocolate é um ótimo companheiro nos momentos confusos. Acho que aprendi isso com o cara viciado em cocaína que me levava um pedaço todos os dias, antes de eu ir dormir. Era engraçado vê-lo batendo na porta do meu quarto pra me dar um pedacinho de chocolate. Me sentia digno disso.
Talvez eu fosse, de fato.
Mas, a constatação mais importante que eu fiz, ao sair de lá, foi perceber que esse tipo de coisas não acontece apenas dentro de um hospital psiquiátrico. As pessoas são loucas, incompreensíveis e vulneráveis onde quer que seja. A mim, só resta aprender a conviver com isso. Ou, simplesmente deixar pra lá.


É fato: essas lembranças só apareceram porque, ultimamente, tenho sentido as mesmas coisas que me mandaram pra lá, uma vez.

Um comentário:

Lynn Polli disse...

adorei seu texto
me identifiquei muito com ele pricipalmente a obeservação no final, sofro com alguns problemas psiquiatricos e por mais que sempre tentem me ajudar, a sensação de que nunca sou compreendida sempre está lá
seu modo de escrever me lembrou muito de varios textos meus