segunda-feira, 27 de outubro de 2008

-Acabei de apagar um cigarro na minha pele.
-Onde?
-No tornozelo.
-Doeu?
-Muito.
-E, por que você fez, então?
-Porque, algumas vezes, a dor é a maneira mais precisa de me mostrar que eu ainda vivo.
-E, não tem outras formas?
-Por exemplo?
-O amor.
-O amor só me mostra que eu preciso de alguém. A dor mostra que, apesar de afirmações em contrário, eu ainda sou um homem capaz de sentir as mesmas coisas que todo mundo. E, como você bem sabe, a dor, mais que o amor, é um sentimento universal.
-E, por que você me contou isso?
-Porque você precisa saber que, por mais que eu te ame, você ainda me deixa entorpecido. Entorpecimento é vago e passageiro. Como o amor. E, você sabe, e eu já te disse várias vezes que, amar você é o que mais me faz sofrer. Porque, infelizmente, é unilateral. Além disso, das dores que eu possa ter, eu prefiro as que eu me causo. São mais minhas, sabe?
-É, eu sei. E, sinto muito.
-Não sinta. Eu vou resolver sozinho, apesar de você. Porque eu sempre resolvo sozinho. Apesar de tudo.

domingo, 26 de outubro de 2008

Espólio

Por mais que conheçamos as pessoas, nunca é certo.
A certeza dos atos, das frases, da linha de raciocínio sempre nos faz viver na dúvida, na incerteza a respeito do que esperar, ou não. Há casos em quê vemos exemplos de atos e atitudes, destinadas a outras pessoas. Aí, nos perguntamos: '-se fosse comigo, seria assim, ou seria diferente? e, se fosse diferente, eu ia preferir que fosse assim, ou que, simplesmente, fosse diferente?'
Acho que, em alguns momentos e, sob alguns aspectos, a dúvida é sempre pior do que a certeza. Como a amiga que diz que uma experiência dolorosa, é digna de esquecimento, mas que, uma dúvida é um fantasma imortal.
No meio de tantas dúvidas, incertezas e medos, o que é que sobra?
-Eu. Você. O mundo.
Talvez, pra maioria de nós seja mais fácil conviver com o que é certo, definitivo. Talvez, a mais dolorosa das nossas características seja chegar a certo momento da vida, perceber que algo novo aconteceu, e mudou tudo, mas, simplesmente, sermos covardes pra tentar encarar.
Falo sobre isso num aspecto geral.
Há quem tenha medo de altura, há quem negue sentimentos, e há quem não saiba aceitar presentes. Mas, mesmo com todas essas características, há pessoas que lutam pela felicidade. Daquelas que, simplesmente deixam o medo pra trás, em busca de algo novo.
Porque há quem acredite que um sonho é algo sem preço.
De minha parte, só ouso dizer que não há desejo pelo qual não valha a pena lutar.
E, pra você, quanto vale o risco?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A inteligência sem amor te faz perverso.
A Justiça sem amor te faz implacável.
A Diplomacia sem amor te faz hipócrita.
O Êxito sem amor te faz arrogante.
A Riqueza sem amor te faz ávaro.
A Pobreza sem amor te faz orgulhoso.
A Beleza sem amor te faz fútil.
A Autoridade sem amor te faz tirano.
O Trabalho sem amor te faz escravo.
A Simplicidade sem amor te deprecia.
A Lei sem amor te deixa fanático.
E a vida sem amor não faz sentido

Agora, me responda por quê diabos eu tô colando aqui, coisas que fazem algum sentido, mas que estão tão longe de ser a verdade?
o.O

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.
Silêncio

Um dia, quando eu estiver menos auto crítico, eu juro, vai ter alguma coisa honesta, por aqui.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Fazia frio, naquela manhã. Saiu da cama para atender o telefone:
-Alô
-Tudo bom?
A voz lhe era familiar. Sentiu um medo intenso, ao ouvi-la. Resolveu se certificar.
-Quem fala?
-Aqui é o grande amor da sua vida. Tudo bom?
A voz estava certa. Era, de fato, o grande amor da sua vida. Esperou tanto, por essa voz.
-Estava, até agora.
-Uau. Acertou em cheio. Só um momento.
Silêncio.
-O quê foi isso?
-Tava aqui, tirando a faca que você cravou no meu peito.
-Tanta presunção, só podia ter vindo de você, mesmo...
A voz do outro lado, até o momento, tão contente, assumiu um tom sério:
-Ainda não me perdoou, né?
-Eu? Te perdoar? Por quê? Por sumir, de repente, não mandar notícias, e permitir, depois de semanas, que eu soubesse, pelos seus amigos, que você foi viajar com a ex?
-É, parece que não perdoou, mesmo.
-Sim, eu perdoei.
Mentira. A mais clara das mentiras. Uma mentira deslavada, como ela costumava dizer. Não gostava que soubessem que guardava mágoas. Sempre, desde que podia se lembrar, fingiu o perdão, a obediência, o sorriso. Fingia um controle que não existia. Gostava que a achassem superior. A quem? Nunca soube responder.
-A gente precisa falar sobre isso.
-Não, a gente não precisa falar sobre isso. Pra dizer a verdade, a gente não precisa falar sobre nada. Você fez o que fez, eu chorei, sofri, entendi, e, tava, até agora, tentando levar minha vida.
Sentiu que não devia ter pronunciado a última frase.
-E, agora...?
-E, agora, você me aparece, como se nada tivesse acontecido, fingindo que tá tudo bem, achando que a gente tem que resolver algo que eu já superei, e tô tentando enterrar!
Nesse momento, tentou acalmar o choro. Não que fosse difícil, mas, sentiu a garganta embargar. Não gostava de chorar, tampouco. Menos ainda que soubessem que estava chorando.
-Parece que não tá tão superado, assim.
-Não, não tá, mesmo.
-Posso ir até aí? Você ainda mora no mesmo lugar, né?-
Não, você não pode. E, eu me mudei.
-E, trocou de carro, presumo?
-Não.
-Então, ainda mora no mesmo lugar. Será que pode abrir a porta, pra mim? Tô no celular.
Ficou muda, de repente. Como é que ele se atrevia? Que tivesse voltado, tudo bem. Ligou? -Legal, ligou. Agora, atravessar, sabe Deus quantos kilômetros, pra lhe visitar, após dois anos? Depois de tudo o que foi feito? Depois da dor que lhe causou?
-É o cúmulo!- pensou.
Abriu a porta.
O mesmo sorriso, a mesma voz. A mesma barba por fazer. Havia algo de diferente. Não pôde identificar, o quê, mas viu que havia. Mais que isso, sentiu que havia.
-Já aprendeu a cozinhar? Tô com fome! -Ele disse, invadindo a sala.
Ela simplesmente lhe deu passagem, pela porta. Ele entrou como sempre fizera. Como um furacão. Tinha essa capacidade incrível de encher o ambiente com sua presença. Olhou ao redor, percebeu uma foto sua, em um dos porta retratos dela. Pegou-o.
-Achei que tivesse se livrado de todas as minhas lembranças.
-Eu tentei.
Não apresentava mais a frieza anterior. A essa altura, tinha mandado todo o seu auto-controle às favas. Ele a abraçou, um abraço apertado, carinhoso. No início, ela tentou recuar, mas, como em todo relacionamento sem ponto final, ela cedeu. E, não cedeu apenas no abraço. Começou a chorar. Soluçava.
De repente, todo o seu passado estava ali. Lembrou-se de cada beijo, cada transa, o cheiro do suor, o gosto dos lábios. Lembrou-se de como se sentia segura em seu peito, e como ele a fizera feliz. Enquanto durou, ao menos.
-Por quê? Como é que você faz isso com alguém? Como é que você fez isso comigo? Eu te amei tanto, tanto..
-E, não ama mais?
-Não. Amo. Não. Droga!
-Sabe, meu bem.. Às vezes, fazemos escolhas das quais nos arrependemos. Ter te deixado foi uma delas. Não que eu tivesse outras opções, mas, de fato, foi a pior escolha.
-Você podia ter ficado. Podia ter sido menos covarde. Podia ter segurado minha mão, naquela maldita mesa de cirurgia, enquanto eu matava o filho que você não quis. Enquanto eu morria de medo e dor. Podia ter limpado as minhas lágrimas. Podia simplesmente ter ficado ao meu lado.
-Eu era tão novo...
-Não, não era. Você tinha, naquela época, a idade que eu tenho, agora. Eu estava tão feliz, era o filho que eu sempre sonhei, e, você não quis, eu cedi aos teus caprichos. e, você foi embora, e me deixou sozinha, sem meu filho, sem amor, sem saber o que fazer da minha vida. Parte de mim morreu, naquela mesa.
-Eu peço perdão, por isso.
Com o pedido de perdão, veio o abraço mais forte, o carinho há tanto desejado. Acordou, no dia seguinte, feliz, decepcionada, sentindo uma confusão tão grande de sentimentos, que chorou tudo o que havia segurado desde que ele se fora:
-Tenho algo pra te dizer.
-Diga.
-Depois que você se foi, eu me senti a pior pessoa do mundo. Resolvi, então, agir como a pior pessoa do mundo. Saí, por várias vezes, bebi demais, usei drogas, e transei com vários outros caras, entre eles, alguns dos teus amigos...
-Eu soube. O tempo todo, alguém me dizia o que você andava fazendo, e com quem...
-Tenho aids.
Depois de dois anos, contando, no calendário, cada um de seus dias, pôde ver, nos olhos dele, o sentimento que há tanto esperava: desamparo. Sentiu-se vingada. Por si, e por seu filho, que jazia, agora, num vidro, envolto em sua mortalha de formol.




PS: Por algum motivo, eu gostaria de ser mais franco comigo mesmo. E, gostaria de falar mais de mim, ao invés de inventar pessoas que me tragam a redenção.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mariana.

-E, agora, como a gente fica? -Perguntou Lucas
-Como assim? Como assim, 'Como a gente fica?'- Respondeu Mariana, deitada, em seus braços.
-É, meu amor, como a gente fica?
Mariana, talvez. não esperasse por aquela pergunta. Mais do que não esperar, não acreditava que a estivesse ouvindo. Achou que, talvez, Lucas a tivesse superado. Não como se supera um amor, mas, da forma como se supera um relacionamento acabado.
-Não, querido. A gente simplesmente não fica.
Assim como Mariana não esperava pela pergunta, Lucas não acreditava naquela resposta. Sabia que ela poderia vir. Sabia que, possivelmente, viria, mas, simplesmente, não podia acreditar. Conhecia Mariana. Sabia que quando ela tomava uma decisão, raramente voltava atrás. Mas, mantinha as esperanças. Acreditava que ela pudesse mudar, voltar atrás e reconsiderar todo o tempo que passaram juntos.
-Tá bem, Má, só me diz, então; o quê diabos eu tô fazendo aqui? Quero dizer, eu tava em casa, tranqüilo, vivendo minha vida, tentando esquecer o estrago que voce me causou, aí, você me liga, me diz que a gente precisava conversar, me enche de esperança, me faz atravessar a cidade inteira, aí, eu chego aqui, você me beija, a gente acaba onde está, e você me diz que "simplesmente não fica"?
-É mais ou menos por aí. - Lucas se levanta, e anda de um lado para o outro, no quarto, à beira de um ataque de choro. Mariana, apenas veste a calcinha, esquecida no chão do quarto.
-"É mais ou menos por aí?" Isso é tudo o que você tem a me dizer? Mariana! Meu, como você pode ser tão...
-Egoísta?
-Repulsiva! - Lucas não podia conter a raiva, em sua voz. Acreditava que, passado algum tempo, talvez ela tivesse repensado sua situação, talvez, depois desse tempo, ela voltaria atrás. Ele desejava que ela voltasse. Ela queria, apenas, viver outras coisas.
-É, Lucas, - disse Mariana, sarcasticamente - parece que você tá ampliando o repertório. A propósito, será que você pode, por favor, se vestir? Tá me incomodando ver as suas coisas balançando, por aí.
-Ah, não! Não! Não pode ser. Mariana, você acha mesmo que isso é algum tipo de brincadeira? Você acha que meus sentimentos são algum brinquedo, pra você usá-los como bem entender? Eu passei quatro anos do seu lado, praticamente todos os dias ouvindo tudo o que você tinha a me dizer. Eu suportava tuas crises de ciúmes, eu abri mão de pessoas de quem eu gostava, mas, você, não; eu abandonei hábitos, eu mudei toda a minha vida, por você. Aí, um belo dia, você vira pra mim, me diz que cansou disso tudo, e, simplesmente, sem mais explicações, você desaparece de mim. Aí, depois de três meses...
-Quatro. - Corrigiu Mariana que, acreditava, tinha, apenas, esperado o suficiente.
-Que seja, caralho. Depois de quatro meses, você aparece, de novo, me liga, dizendo que precisava conversar, eu venho até a sua casa, a gente transa, você me faz acreditar que, talvez, a gente tenha alguma chance, pra me dizer, simplesmente, que não quer nada comigo?
-É. Sabe, você diz que fez tudo isso por mim, e o caralho a quatro. Mas, em nenhum momento você me perguntou o que eu queria.
Durante o afastamento, Lucas havia refletido muito, a respeito desse namoro. Ele acreditava ter feito tudo certo, pra não perdê-la. Amava-a, simplesmente. Acreditava que, no fundo, apesar de ter fugido, sem maiores explicações, Mariana o amasse, também. De aguma maneira, ela o amava, de fato. Mas, não era o suficiente, pra ele.No tempo em quê durou esse namoro, Mariana cresceu, sorriu, chorou, construiu e destruiu seus sonhos. Amava Lucas, mas, para ela, ele era apenas uma companhia. Não conseguia se imaginar com ele, para o resto de sua vida. Ela admitia que fosse uma pessoa egoísta. E, isso foi aumentando, no decorrer do namoro. Lucas, simplesmente aceitava seu jeito, suas crises, seus ciúmes, sua obsessiva necessidade por controle.
-Meu - disse Lucas, que, a essa hora, já estava chorando. - você não tem o direito de fazer isso comigo. Não tem mesmo. Não é justo. Não é humano, caralho!
Sentada na beirada da cama bagunçada, vestindo o soutien, Mariana olha profundamente para Lucas. Nos olhos. Levanta-se, lentamente, acende um cigarro, caminha em direção a ele, sem deixar de olhá-lo nos olhos, e diz:
-Então, meu querido, adicione 'desumana' à lista de adjetivos.
Por alguma razão, Mariana sempre usara o sarcasmo como mecanismo de defesa. Sabia como isso afetava Lucas. Sabia como isso sempre afetara as pessoas ao seu redor. Mas, não fazia a menor questão de mudar esse hábito.Lucas se sentia irritado sempre que Mariana o olhava dessa forma. O fazia sentir inferior. Sabia que Mariana o dominava por completo, mas não suportava que ela o denunciasse, com esse olhar.
Vestida, por completo, agora, Mariana via Lucas na janela, olhando pra fora, o cigarro pendendo na mão esquerda. Era canhoto.
-Sabe por quê eu fui embora? - Disse Mariana, calmamente. Tinha essa capacidade de parecer calma sob qualquer circunstância, desde que desejasse.
-Não. - Disse Lucas, hostil - E, sei que não adiantaria ter perguntado. Assim, como eu sei que não vao adiantar perguntar, agora.
De fato, não adiantaria. Mariana não diria nada que não quisesse. Ela nunca dizia.
-Eu fui embora, meu caro, porque você me decepcionou.
Lucas a olhava, estupefato. Relaxou, por um segundo, tragou, lentamente, seu cigarro, e perguntou, sentindo medo da resposta:
-E, como foi que eu fiz isso?
-Umas duas semanas antes de terminar com você, eu estava em casa, entediada. Naquele dia, você tinha me convidado pra sair, mas, eu não quis. Eu te disse pra ir, e você foi.
Lucas começava a se lembrar daquela noite. Sentiu-se, instantaneamente atormentado.
-É. você disse que não queria ir, me disse que eu podia, se quisesse e, eu fui.
-Aham. Você foi. Você e aquele seu amigo. Como era mesmo o nome dele? Aquele gay que eu dizia que era apaixonado por você e, você ria. Lembra? - Certamente, Lucas se lembrava. Como se lembrava daquela noite. Como se lembrava de várias outras noites, como aquela. Mas, com medo de se denunciar, não disse nada, apenas acenou, com a cabeça. - Eu sei que lembra. Pois bem, naquela noite, minha mãe me encheu o saco, querendo saber se estava tudo bem comigo e, aquelas coisas todas que você sabe que minha mãe faz.
Lucas esboçou um sorriso. Conhecia a mãe de Mariana.
-Enfim, depois que ela encheu meu saco, até eu não agüentar mais, eu sai. Tentei te ligar, mas, seu celular estava desligado. Aí, eu fui e procurar naquele bar. Quando eu cheguei lá, eu te vi no estacionamento com o seu amigo. André. É esse o nome dele, né?
-É - Respondeu Lucas.
-Então, eu cheguei lá, vi vocês dois no estacionamento. Vocês estavam se beijando. Me ocorreu que você nunca tinha me beijado daquele jeito. Na hora, eu quis ir lá, comprimentar vocês dois, mas, mudei de idéia. Entrei no bar, você me encontrou, lá dentro, e a gente passou a noite toda fingindo que tava tudo bem. Eu acho, até, que você imaginou que eu não tivesse visto vocês dois. -É, eu imaginei. Eu ia te contar...
-Ah, meu, cala a boca, vai. Ia contar, o caralho. Eu esperei por duas semanas. O André veio falar comigo, no dia seguinte. Assumiu a culpa dele, disse que te beijou e, você só retribuiu. Ele é bem legal, até, o André. E, caso você não tenha experimentado, ainda, o que eu acho difícil, ele também é bom de cama.
Lucas se sentiu irritado, enojado. Tentando se explicar, ele disse:
-Você teria me perdoado se eu dissesse? Se eu tivesse te contado?
-É. Eu teria. Aliás, eu perdoei. E, passei aquelas duas semanas esperando que você contasse. Mas, pra variar, você foi covarde. - Mariana se interrompeu, repentinamente - Ei, pensando nisso, agora, covarde é uma boa palavra pra definir você. Me usando pra forjar uma boa imagem..-Você sabe que não é assim. Eu te amo, porra!
Mariana sorriu. Um sorriso que deixaria o gato da Alice com inveja. Uma densa atmosfera de sarcasmo dominou o quarto. Mariana se aproximou de Lucas, deu-lhe um beijo. Ele sentiu que um tapa seria mais bem-vindo. Depois, ela se afastou, com um porte arrogante. Sentou-se na beirada da cama, ainda desarrumada, vestiu suas botas e, foi se olhar no espelho. Lentamente, retocando a maquilagem, olhou para Lucas, através do espelho e, disse:
-Ah, você ainda está aí? Meu amor, eu não vou ouvir suas explicações. Agora, você já não é mais problema meu. Só que, nesse tempo todo, me ocorreu que, talvez, você tivesse o direito de saber o que aconteceu. E, eu resolvi te explicar, numa tentativa de não ser tão - Mariana depositou o lápis de olho em cima da mesa, virou-se pra olhá-lo, diretamente, e enfatizou a palara - REPULSIVA - disse e sorriu. - Agora, se você me der licença, eu tô indo encontrar um cara, aí.
Lucas se vestiu, simplesmente, olhou-a no fundo dos olhos, suspirou e foi embora.
Ao vê-lo sair, Mariana se jogou na cama, ainda bagunçada, e chorou. Chorou por, após tanto tempo, perceber que nada mudou.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

"Qual era a verdade? Fizera alguma coisa para a convencer? Sim e não. Convencer de quê? De qual verdade? -Não, não fiz nada. Ela tem suas razões, estou de acordo com ela. O comissário olhou-a em silêncio. As lágrimas deslizavam ainda, mas os soluços tinham parado. -Um dia, tu também compreenderás. Entre vocês, nada é possível. Nada de sério, de duradoiro. Talvez mais tarde. Mais tarde, sim, se se reencontrarem. Mas nem deves pensar nisso, deves libertar-te." (Mayombe, p.194)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aquilo, mano.

Se você tivesse me encontrado, eu teria te dito tanta coisa, mas, tanta coisa, que eu acho que, hoje, talvez, as coisas fossem diferentes. Talvez, hoje, você soubesse o que é ser amado, de verdade. Eu teria te feito ver que, apresar das confusões, das crises que a gente enfrenta com a gente mesmo, eu podia ir um pouco além disso. Um pouco além da loucura que você via em mim. Um pouco além do bom orgasmo que você dizia que eu te proporcionava. Acho que, se você tivesse me dado a chance de te dizer o quanto eu te amo, as coisas talvez fossem diferentes, entre nós. Eu sei que eu podia ter dito antes, eu juro que sei. Eu sei, hoje, que eu não devia ter esperado tanto.Mas, agora, eu vejo a falta que você me faz, e o tempo que eu perdi, com medo de me declarar. Eu vejo que sinto falta do teu corpo, do teu peito, que me abrigava. Dos braços e dos abraços que me transmitiam tanta segurança. E, eu vejo que, apesar de tudo, talvez, o erro fosse meu, desde o começo, por ter acreditado em um amor que já nasceu com morte decretada.De qualquer forma, meu amor, se você tivesse me encontrado, saberia que, todas as vezes em que eu disse 'eu te amo', olhando pra outros olhos, beijando outras bocas, possuindo outros corpos, cada uma das vezes em que eu disse 'eu te amo', era pra você. Mesmo sabendo que você nunca me ouviria.