-E, agora, como a gente fica? -Perguntou Lucas
-Como assim? Como assim, 'Como a gente fica?'- Respondeu Mariana, deitada, em seus braços.
-É, meu amor, como a gente fica?
Mariana, talvez. não esperasse por aquela pergunta. Mais do que não esperar, não acreditava que a estivesse ouvindo. Achou que, talvez, Lucas a tivesse superado. Não como se supera um amor, mas, da forma como se supera um relacionamento acabado.
-Não, querido. A gente simplesmente não fica.
Assim como Mariana não esperava pela pergunta, Lucas não acreditava naquela resposta. Sabia que ela poderia vir. Sabia que, possivelmente, viria, mas, simplesmente, não podia acreditar. Conhecia Mariana. Sabia que quando ela tomava uma decisão, raramente voltava atrás. Mas, mantinha as esperanças. Acreditava que ela pudesse mudar, voltar atrás e reconsiderar todo o tempo que passaram juntos.
-Tá bem, Má, só me diz, então; o quê diabos eu tô fazendo aqui? Quero dizer, eu tava em casa, tranqüilo, vivendo minha vida, tentando esquecer o estrago que voce me causou, aí, você me liga, me diz que a gente precisava conversar, me enche de esperança, me faz atravessar a cidade inteira, aí, eu chego aqui, você me beija, a gente acaba onde está, e você me diz que "simplesmente não fica"?
-É mais ou menos por aí. - Lucas se levanta, e anda de um lado para o outro, no quarto, à beira de um ataque de choro. Mariana, apenas veste a calcinha, esquecida no chão do quarto.
-"É mais ou menos por aí?" Isso é tudo o que você tem a me dizer? Mariana! Meu, como você pode ser tão...
-Egoísta?
-Repulsiva! - Lucas não podia conter a raiva, em sua voz. Acreditava que, passado algum tempo, talvez ela tivesse repensado sua situação, talvez, depois desse tempo, ela voltaria atrás. Ele desejava que ela voltasse. Ela queria, apenas, viver outras coisas.
-É, Lucas, - disse Mariana, sarcasticamente - parece que você tá ampliando o repertório. A propósito, será que você pode, por favor, se vestir? Tá me incomodando ver as suas coisas balançando, por aí.
-Ah, não! Não! Não pode ser. Mariana, você acha mesmo que isso é algum tipo de brincadeira? Você acha que meus sentimentos são algum brinquedo, pra você usá-los como bem entender? Eu passei quatro anos do seu lado, praticamente todos os dias ouvindo tudo o que você tinha a me dizer. Eu suportava tuas crises de ciúmes, eu abri mão de pessoas de quem eu gostava, mas, você, não; eu abandonei hábitos, eu mudei toda a minha vida, por você. Aí, um belo dia, você vira pra mim, me diz que cansou disso tudo, e, simplesmente, sem mais explicações, você desaparece de mim. Aí, depois de três meses...
-Quatro. - Corrigiu Mariana que, acreditava, tinha, apenas, esperado o suficiente.
-Que seja, caralho. Depois de quatro meses, você aparece, de novo, me liga, dizendo que precisava conversar, eu venho até a sua casa, a gente transa, você me faz acreditar que, talvez, a gente tenha alguma chance, pra me dizer, simplesmente, que não quer nada comigo?
-É. Sabe, você diz que fez tudo isso por mim, e o caralho a quatro. Mas, em nenhum momento você me perguntou o que eu queria.
Durante o afastamento, Lucas havia refletido muito, a respeito desse namoro. Ele acreditava ter feito tudo certo, pra não perdê-la. Amava-a, simplesmente. Acreditava que, no fundo, apesar de ter fugido, sem maiores explicações, Mariana o amasse, também. De aguma maneira, ela o amava, de fato. Mas, não era o suficiente, pra ele.No tempo em quê durou esse namoro, Mariana cresceu, sorriu, chorou, construiu e destruiu seus sonhos. Amava Lucas, mas, para ela, ele era apenas uma companhia. Não conseguia se imaginar com ele, para o resto de sua vida. Ela admitia que fosse uma pessoa egoísta. E, isso foi aumentando, no decorrer do namoro. Lucas, simplesmente aceitava seu jeito, suas crises, seus ciúmes, sua obsessiva necessidade por controle.
-Meu - disse Lucas, que, a essa hora, já estava chorando. - você não tem o direito de fazer isso comigo. Não tem mesmo. Não é justo. Não é humano, caralho!
Sentada na beirada da cama bagunçada, vestindo o soutien, Mariana olha profundamente para Lucas. Nos olhos. Levanta-se, lentamente, acende um cigarro, caminha em direção a ele, sem deixar de olhá-lo nos olhos, e diz:
-Então, meu querido, adicione 'desumana' à lista de adjetivos.
Por alguma razão, Mariana sempre usara o sarcasmo como mecanismo de defesa. Sabia como isso afetava Lucas. Sabia como isso sempre afetara as pessoas ao seu redor. Mas, não fazia a menor questão de mudar esse hábito.Lucas se sentia irritado sempre que Mariana o olhava dessa forma. O fazia sentir inferior. Sabia que Mariana o dominava por completo, mas não suportava que ela o denunciasse, com esse olhar.
Vestida, por completo, agora, Mariana via Lucas na janela, olhando pra fora, o cigarro pendendo na mão esquerda. Era canhoto.
-Sabe por quê eu fui embora? - Disse Mariana, calmamente. Tinha essa capacidade de parecer calma sob qualquer circunstância, desde que desejasse.
-Não. - Disse Lucas, hostil - E, sei que não adiantaria ter perguntado. Assim, como eu sei que não vao adiantar perguntar, agora.
De fato, não adiantaria. Mariana não diria nada que não quisesse. Ela nunca dizia.
-Eu fui embora, meu caro, porque você me decepcionou.
Lucas a olhava, estupefato. Relaxou, por um segundo, tragou, lentamente, seu cigarro, e perguntou, sentindo medo da resposta:
-E, como foi que eu fiz isso?
-Umas duas semanas antes de terminar com você, eu estava em casa, entediada. Naquele dia, você tinha me convidado pra sair, mas, eu não quis. Eu te disse pra ir, e você foi.
Lucas começava a se lembrar daquela noite. Sentiu-se, instantaneamente atormentado.
-É. você disse que não queria ir, me disse que eu podia, se quisesse e, eu fui.
-Aham. Você foi. Você e aquele seu amigo. Como era mesmo o nome dele? Aquele gay que eu dizia que era apaixonado por você e, você ria. Lembra? - Certamente, Lucas se lembrava. Como se lembrava daquela noite. Como se lembrava de várias outras noites, como aquela. Mas, com medo de se denunciar, não disse nada, apenas acenou, com a cabeça. - Eu sei que lembra. Pois bem, naquela noite, minha mãe me encheu o saco, querendo saber se estava tudo bem comigo e, aquelas coisas todas que você sabe que minha mãe faz.
Lucas esboçou um sorriso. Conhecia a mãe de Mariana.
-Enfim, depois que ela encheu meu saco, até eu não agüentar mais, eu sai. Tentei te ligar, mas, seu celular estava desligado. Aí, eu fui e procurar naquele bar. Quando eu cheguei lá, eu te vi no estacionamento com o seu amigo. André. É esse o nome dele, né?
-É - Respondeu Lucas.
-Então, eu cheguei lá, vi vocês dois no estacionamento. Vocês estavam se beijando. Me ocorreu que você nunca tinha me beijado daquele jeito. Na hora, eu quis ir lá, comprimentar vocês dois, mas, mudei de idéia. Entrei no bar, você me encontrou, lá dentro, e a gente passou a noite toda fingindo que tava tudo bem. Eu acho, até, que você imaginou que eu não tivesse visto vocês dois. -É, eu imaginei. Eu ia te contar...
-Ah, meu, cala a boca, vai. Ia contar, o caralho. Eu esperei por duas semanas. O André veio falar comigo, no dia seguinte. Assumiu a culpa dele, disse que te beijou e, você só retribuiu. Ele é bem legal, até, o André. E, caso você não tenha experimentado, ainda, o que eu acho difícil, ele também é bom de cama.
Lucas se sentiu irritado, enojado. Tentando se explicar, ele disse:
-Você teria me perdoado se eu dissesse? Se eu tivesse te contado?
-É. Eu teria. Aliás, eu perdoei. E, passei aquelas duas semanas esperando que você contasse. Mas, pra variar, você foi covarde. - Mariana se interrompeu, repentinamente - Ei, pensando nisso, agora, covarde é uma boa palavra pra definir você. Me usando pra forjar uma boa imagem..-Você sabe que não é assim. Eu te amo, porra!
Mariana sorriu. Um sorriso que deixaria o gato da Alice com inveja. Uma densa atmosfera de sarcasmo dominou o quarto. Mariana se aproximou de Lucas, deu-lhe um beijo. Ele sentiu que um tapa seria mais bem-vindo. Depois, ela se afastou, com um porte arrogante. Sentou-se na beirada da cama, ainda desarrumada, vestiu suas botas e, foi se olhar no espelho. Lentamente, retocando a maquilagem, olhou para Lucas, através do espelho e, disse:
-Ah, você ainda está aí? Meu amor, eu não vou ouvir suas explicações. Agora, você já não é mais problema meu. Só que, nesse tempo todo, me ocorreu que, talvez, você tivesse o direito de saber o que aconteceu. E, eu resolvi te explicar, numa tentativa de não ser tão - Mariana depositou o lápis de olho em cima da mesa, virou-se pra olhá-lo, diretamente, e enfatizou a palara - REPULSIVA - disse e sorriu. - Agora, se você me der licença, eu tô indo encontrar um cara, aí.
Lucas se vestiu, simplesmente, olhou-a no fundo dos olhos, suspirou e foi embora.
Ao vê-lo sair, Mariana se jogou na cama, ainda bagunçada, e chorou. Chorou por, após tanto tempo, perceber que nada mudou.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
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